Longe 2010

Com a chegada da Primavera de 2010, Pedro Abrunhosa prepara a segunda partida: a que vai levá-lo “Longe”, mais de uma dezena e meia de anos depois de ter iniciado as suas “Viagens” junto do grande público. Inquieto, fiel ao impulso criativo, refractário ao comodismo e às fórmulas resolventes, consegue a proeza de mudar tudo sem renegar nada – nem tal faria sentido, depois de um percurso que passou pelo “Silêncio” e pelo “Palco”, pela “Intimidade”, aliado do “Tempo” a cada “Momento”, seguidor da “Luz” natural que o músico sempre fez questão de partilhar, com outros músicos e, sobretudo, com o público.

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1. Rei do Bairro Alto

01. REI DO BAIRRO ALTO

Vou de costas mas vou indo,
Onde há quem desça eu vou subindo,
O meu casaco de pele,
O meu Porsche vermelho,
Se eu puxar de papel
Já não me sinto tão velho.
Hum, estou bem!
Se os outros vão eu vou também,
Gosto que me vejam
O decote em janela,
Aprendi esta pose,
Já tenho um pé na novela.
 
Olha bem pr’a mim,
Já viste alguém assim?
Não há ninguém tão bom
E nada me vai deter,
 
Vou dar o salto,
Vou ser o Rei do Bairro Alto!
Vou dar o salto,
Vou ser o Rei do Bairro Alto!
 
Entro de lado no Porto inteiro,
Conheço o dono e o porteiro.
Tenho um vestido de malha,
E um olhar que não falha,
Vi na revista do cabeleireiro.
Hum, vou a pé!
Levo a guitarra e o djambé,
Se há coisa que me oprime
É não ter um Moleskine,
Filosofia de rodapé.
 
Olha bem pr’a mim,
Já viste alguém assim?
Não há ninguém tão bom
E nada me vai deter,
 
Vou dar o salto,
Vou ser o Rei do Bairro Alto!
Vou dar o salto,
Vou ser o Rei do Bairro Alto!
 
 
Ah, espelho meu!
Eu na terra e o sol no céu,
Vou dormir ao som da fama,
Este país é por mim que chama.
 
Vou dar o salto,
Vou ser o Rei do Bairro Alto!
Vou dar o salto,
Vou ser o Rei do Bairro Alto!

2. Entre a espada e a parede

02. ENTRE A ESPADA E A PAREDE

Estás tão perdido agora,
Tens um caminho mas preferes estar fora
Parecia fácil mas os dias não têm rede,
Diz como te sentes entre a espada e a parede.
 
Entre a espada e a parede.
Um dia o céu,
Noutro dia o chão,
Dizes para ti: “Melhores dias virão”.
Um shot, dois shots, nada mata a sede,
Então como te sentes entre a espada e a parede.
 
Perdeste o tempo de voltar atrás,
Sabes de cor como isso se faz,
Deixas o corpo onde o amor se perde,
E tens tanto à aprender
Entre a espada e a parede
Entre a espada e a parede
É onde o corpo mata a sede,
Entre a espada e a parede.
 
Uma sala cheia de paredes vazias,
E uivam sirenes, mas isso já não ouvias.
O asfalto grita alto um nome que te persegue,
Diz como te sentes entre a espada e a parede.
Repetes cantigas, tropeças passos de dança,
Apagas o cigarro enquanto a rua balança,
E pedes a alguém que te ame, que te leve,
Então como te sentes entre a espada e a parede.
 
Perdeste o tempo de voltar atrás,
Sabes de cor como isso se faz,
Deixas o corpo onde o amor se perde,
E tens tanto à aprender
Entre a espada e a parede
Entre a espada e a parede
É onde o corpo mata a sede,
Entre a espada e a parede.
 
Não conheces quem te abraça
Nem quem te escava o chão,
 
E tanta gente em fuga a esconder a solidão.
Hoje vais voar na noite como a tua alma pede,
Então como te sentes entre a espada e a parede.
 
Entre a espada e a parede
Entre a espada e a parede
É onde o corpo mata a sede
Entre a espada e a parede
Entre a espada e a parede
É onde o corpo mata a sede
É onde a vida se perde
Entre a espada e a parede
Ainda sabes o teu nome
É onde o corpo mata a sede
Onde a estrada se perde
É entre a espada e a parede
Onde o corpo mata a sede...

3. Pode o céu ser tão longe

03. PODE O CÉU SER TÃO LONGE

Vesti a luz do teu nome
E chamei-te pela noite,
Entraste no meu sono
Como o luar entra na fonte.
Trazes estórias e proezas
Dizes que tens tanto pr’a me dar,
Deixas sombras, incertezas,
E partes sem nunca me levar.
 
E de repente
Um mar sozinho,
Ninguém na margem
Ninguém no caminho,
Tão frio.
E o teu beijo
Mata-me a distância,
Ninguém tão perto
Pode o que o beijo alcança,
E o meu corpo chora
Quando o teu vai embora,
Porque o teu mundo
 
É tão longe,
Tão longe,
Pode o céu ser tão longe.
Tão longe,
Tão longe,
Se a tua voz vive em mim.
 
Há um deserto que fica,
Sou um capitão sem barco,
E quando vens pela bruma
Acendem-se estrelas no quarto.
E dizes:
“Trago a luz das sereias,
Trago o canto da tempestade”.
E como o vento na areia
Deitas-te em mim feita metade.
 
E de repente
Um mar sozinho,
Ninguém na margem
Ninguém no caminho,
Tão frio.
E o teu beijo
Mata-me a distância
Ninguém tão perto
Pode o que o beijo alcança,
E o meu corpo chora
Quando o teu vai embora,
Porque o teu mundo
 
 
É tão longe,
Tão longe
Pode o céu ser tão longe.
Tão longe,
Tão longe
Se a tua voz vive em mim.

4. Se houver um anjo da guarda

04. SE HOUVER UM ANJO DA GUARDA

Um homem contou-me
Que da montanha
Se toca o céu,
Que se encontrou ao subi-la
Mas ao descê-la
Se perdeu.
Viu rastos de cobra
E pegadas de leão:
“Esta vida não sobra
Quando se olha só para o chão!”
 
E tentou fugir do trilho,
Beijou o tempo como a um filho,
Acordou numa alvorada,
Já sem nada pr’a esconder
E então falou assim:
 
“Se houver
Um Anjo da Guarda
Que me abrace
E se guarde dentro de mim,
É tão só estar só no fim”.
 
Outro homem contou-me
Que da cidade
Se vê o mundo,
Que é tão doce o desejo,
Que nenhum beijo
É profundo.
Viu escadas de ouro
E telhados de rubi,
Pensou que o maior tesouro
É cada qual saber de si.
 
E tentou fugir da sombra,
Dizer à luz que não se esconda,
Correu as ruas, uma a uma,
Já sem nada pr’a perder
E então gritou assim:
 
“Se houver
Um Anjo da Guarda,
Que me abrace
E se guarde dentro de mim,
É tão só estar só no fim”.
Porque é tão só estar só no fim.

5. Fazer o que ainda não foi feito

05. FAZER O QUE AINDA NÃO FOI FEITO

Sei que me vês
Quando os teus olhos me ignoram,
Quando por dentro eu sei que choram.
Sabes de mim,
Eu sou aquele que se esconde,
Sabe de ti sem saber onde,
Vamos fazer o que ainda não foi feito.
Trago-te em mim
Mesmo que chova no verão,
Queres dizer Sim, mas dizes: “Não”,
Vamos fazer o que ainda não foi feito.
 
Eu sou mais do que te invento,
Tu és um mundo com mundos por dentro
E temos tanto pr’a contar.
 
Vem esta noite,
Fomos tão longe a vida toda,
Somos um beijo que demora,
Porque amanhã é sempre tarde demais.
 
Eu sei que dói,
Sei como foi
Andares tão só por essa rua
As vozes que te chamam e tu na tua,
Esse teu corpo é o teu porto é o teu jeito,
Vamos fazer o que ainda não foi feito.
Sabes quem sou,
Para onde vou
A vida é curva,
Não uma linha,
As portas que se fecham e eu na minha,
A tua sombra é o lugar onde me deito,
Vamos fazer o que ainda não foi feito.
 
Eu sou mais do que te invento,
Tu és um mundo com mundos por dentro
E temos tanto pr’a contar.
 
 
Vem esta noite,
Fomos tão longe a vida toda,
Somos um beijo que demora,
Porque amanhã é sempre tarde demais.
 
Tens uma estrada,
Tenho uma mão cheia de nada,
Somos um todo imperfeito,
Tu és inteira e eu desfeito,
Vamos fazer o que ainda não foi feito.
 
Eu sou mais do que te invento,
Tu és um mundo com mundos por dentro
E temos tanto pr’a contar.
 
Vem esta noite,
Fomos tão longe a vida toda,
Somos um beijo que demora,
Porque amanhã é sempre tarde demais. (x2)

6. Durante toda a noite

06. DURANTE TODA A NOITE

Quantas vezes já ouviste:
“O problema não é meu!”
E as outras que fingiste
O prazer que ninguém deu.
Quantas vezes reparaste
No olhar que te seguiu,
Respondeste com o corpo
Num rodar de desafio.
 
E amanhã
Vais tentar mais uma vez,
Saber de alguém
Que descubra quem tu és,
 
Toda a noite,
Toda a noite,
Toda a noite,                                                                       
Durante toda a noite.
 
Quantas vezes  prometeram:
“Esta é a vez diferente”,
Uma frase que ouviste
A quem só trata do presente.
E partiste pelas ruas
Porque nada te tocou,
Procuraste o impossível
Mas ele nunca te encontrou.
 
E amanhã
Vais tentar mais uma vez,
Saber de alguém
Que descubra quem tu és,
 
Toda a noite,
Toda a noite,
Toda a noite,                                                                       
Toda a noite.
 
Ah! Gosto das noites de Verão
De me perder na tua mão
Por isso eu vou…
Toda a noite,
Toda a noite.    
 
 
E o toque do telemóvel
Traz-te a rotina de sempre,
E se ao menos uma vez
Ele tocasse diferente…
E dormiste mais sozinha
Do que o desejo pedia,
Porque se há algo que tu sabes,
Depois da noite vem o dia.
 
E amanhã
Vais tentar mais uma vez,
Saber de alguém
Que descubra quem tu és,
 
Toda a noite,
Toda a noite,                                                                       
Toda a noite,    
Durante toda a noite.

7. Não desistas de mim

07. NÃO DESISTAS DE MIM

A porta fechou-se contigo,
Levaste na noite o meu chão,
E agora neste quarto vazio
Não sei que outras sombras virão.
E alguém ao longe me diz:
 
Há um perfume que ficou na escada,
E na TV o teu canal está aberto,
Desenhos de corpos na cama fechada,
São um mapa de um passado deserto.
 
Eu sei que houve um tempo
Em que tu e eu
Fomos dois pássaros loucos,
Voámos pelas ruas
Que fizemos céu,
Somos a pele um do outro.
 
Não desistas de mim,
Não te percas agora,
Não desistas de mim
A noite ainda demora.
 
Ainda sei de cor o teu ventre
E o vestido rasgado de encanto,
A luz da manhã,
O teu corpo por dentro,
E a pele na pele de quem se quer tanto.
 
Não tenho mais segredos,
Escondi-me nos teus dedos,
Somos metades iguais.
Mas hoje,
Só hoje,
Leva-me para onde vais
Que eu quero é dizer-te:
 
Não desistas de mim,
Não te percas agora,
Não desistas de mim
A noite ainda demora.

8. Ai, Ai, caramba! já fui...

08. AI, AI, CARAMBA! JÁ FUI...

Vou pelo deserto,
Atravesso a fronteira,
De dia ou de noite
Vou de qualquer maneira,
Escavo um túnel,
Corto o arame farpado,
Vou dar tudo o que tenho
P’ra não ficar deste lado.
 
Vou embora e vou mudo,
Muito perto do zero,
Posso ir de balão,
Mas esta vida não quero.
Vou de cacto, vou a jato,
Sou um gato acossado,
Dou corda nos sapatos,
Vou fugir deste fado.
 
Já fui,
Já era,
Quem fica, desespera,
Já dei,
Já deixei,
De tanto ver
Eu faço que não sei.
 
Ai, ai caramba!
Ai, ai caramba!
Ai, ai caramba!
Ai, ai caramba!
 
Vou directo ao assunto,
Vou mudar de país,
A quem é que eu pergunto:
“Qual foi o mal que eu fiz?”.
Trago a pá, trago o pó,
Vou sair do buraco,
Levo a conta da vida
Nas mangas do casaco.
 
 
Vou de burro ou vou a pé,
Escapar à sujeira,
Contornar o polícia
E trocar de bandeira.
Aprendi outra língua,
Sou um homem solteiro,
Vou sair desta fila,
Não nasci pr’a carneiro.
 
Já fui,
Já era,
Quem fica, desespera,
Já dei,
Já deixei,
De tanto ver
Eu faço que não sei.
 
Ai, ai caramba!
Ai, ai caramba!
Ai, ai caramba!
Ai, ai caramba!
 
Ah! País, meu bem,
Tu és d’ouro e vales vintém,
Um dia fechas e vens também.
 
Ai, ai caramba!
Ai, ai caramba!
Ai, ai caramba!
Ai, ai caramba!

9. Já não há por onde fugir

09. JÁ NÃO HÁ POR ONDE FUGIR

A noite ganhou-te,
Trocou-te nos dados,
Nos néons, nos fados,
Num whisky vulgar,
Secou-te a garganta,
Levou-te a mulher,
Tudo tão devagar,
Como num jogo de póker.
E não há p’ra onde fugir.
 
Viajante no tempo,
Andarilho cowboy,
Vagabundo de corpos,
Sentes a dor que não dói.
Será que me vendes a alma?
Me alugas a cama?
Te afogas na calma
De quem se deita na lama?
E não tens p’ra onde fugir.
 
E no fim da estrada
Deixa-te cair,
Só nesta jogada
Já não há p’ra onde fugir.
 
Já não há p’ra onde fugir,
Já não há p’ra onde fugir.
 
Andas em contra-mão
No ruído da esquina,
Nos sinais que se fecham,
Na luz da vitrina.
E dançaste sozinho
Entre os traços da rua,
Rodopias feliz
Esta praça é só tua.
Já não há p’ra onde fugir.
 
E agora um abraço
Em que o vento te agarra,
Sabes,
Tantas vozes que ouves
E nenhuma te ampara.
Será que me sentes por perto?
Sou um frio deserto
Podes ter como certo
Serei teu dono no fim!
Já não tens por onde fugir.
 
E no fim da estrada
Deixa-te cair,
Só nesta jogada
Já não há p’ra onde fugir.
 
Já não há p’ra onde fugir,
Já não há p’ra onde fugir.

10. Eu sou o poder

10. EU SOU O PODER

Um homem diz pr’a outro homem
Que aquilo que tem já sabe a pouco,
E a gravata aperta a garganta
E um olhar de louco.
E há outro que vem com uma bengala
E entra na sala,
Bate no chão,
E sai-lhe da mão
Um ódio rouco.
 
O Diabo pergunta:
“O que queres tu comer?”
E ele responde:
“Quero Poder e tudo que houver para além de ti,
E são muitos que querem, que sabem,
Quem eu sou aqui.”
E com isto desapareceu
No fumo.
 
Não tenho tempo a perder,
 
Eu sou o Poder,
Eu sou o Poder,
Eu sou o Poder,
Eu sou o Poder.
 
Um homem diz pr’a outro homem:
“Eu vou ser original!”
E tudo o que escreve
Como o que diz vem no jornal.
“Esta cidade enquanto se esconde,
Enquanto não morde, enquanto que dorme
É um leão sem cabeça,
É um sítio banal!”
 
O Diabo volta a perguntar:
“Que queres tu mais,
Que posso dar pr’a te saciar”
“Talvez o deserto,
Talvez o universo,
E se eu fosse perverso
Talvez o medo que há no ar”.
 
Não tenho tempo a perder,
 
 
Eu sou o Poder,
Eu sou o Poder,
Eu sou o Poder,
Eu sou o Poder.

11. Enquanto há estrada

11. ENQUANTO HÁ ESTRADA

Há luzes que se acendem,
Camiões por todo o lugar,
Cheiro a terra e a gasolina,
Vozes em fuga dum bar.
Aqui me fico
E aqui me estendo,
Pesa-me a estrada e a sombra do carro,
Um nocturno que só eu entendo,
Nunca está só quem tem um cigarro.
 
E de manhã
Talvez tudo tenha ido,
Perder o medo
No rosto do inimigo,
Rir do escuro
E rir do esconderijo,
Quem sabe?
 
Vou sempre
De frente,
Não há saída
Se houver paragem.
Sou um
Mas sou muita gente,
Enquanto há estrada
Há que seguir viagem.
 
Há um vento frio que levanta,
Faróis que fogem da tempestade,
Há quem traga o pó na garganta
E quem esconda o pó da cidade.
Aqui me deito
E aqui me espero,
Pesa-me o asfalto e o horizonte,
Só há uma forma de viver inteiro,
Ser como o vento que desenha o monte.
 
E de manhã
Talvez tudo tenha ido,
Ganhar coragem
Enquanto se abraça o perigo,
Rir do silêncio
E dos passos do ruído,
Quem sabe?
 
 
Vou sempre
De frente,
Não há saída
Se houver paragem.
Sou um
Mas sou muita gente,
Enquanto há estrada
Há que seguir viagem.

12. Capitão da areia

12. CAPITÃO DA AREIA

À noite,
Há fadas pelo céu,
Gigantes como eu,
Cuidado!
Há sombras na janela,
Peter Pan dança na estrela,
Não acordes na viagem.
 
Conta-me uma história
De tesouros e Luar,
És Capitão da Areia,
E Pirata de alto mar.
 
Agora,
As cortinas têm rostos,
São fantasmas bem dispostos,
Cuidado!
O Super-Homem está a caminho,
Traz o panda e o soldadinho,
Fecha os olhos e verás.
 
Conta-me uma história
De tesouros e Luar,
És Capitão da Areia,
E Pirata de alto mar.
 
Às vezes
Há dragões que têm medo,
E é esse o seu segredo,
Cuidado!
Vivem debaixo da cama,
Brincam com o Homem-Aranha,
Vais levá-los no teu sono.
 
Conta-me uma história
De tesouros e Luar,
És Capitão da Areia,
E Pirata de alto mar.
Conta-me uma história
Onde eu entre devagar,
És Capitão da Areia
Diz-me onde me vais levar.

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